Rua do Saco

Outubro 28 2010

Dizem que não se deve discutir política, nem futebol, nem religião.

 

Não é bom para as relações entre as pessoas.

 

Mas não misturemos as coisas: uma é ser-se cidadão, outra é ser-se adepto, outra ainda é ser-se crente. São coisas completamente diferentes.

 

O cidadão tem o direito de ser militante, mas tem a obrigação de exercer o seu direito de eleitor.

 

Acontece, porém, que no meu País, nada se passa assim.

 

Confunde-se política com futebol. Confunde-se “partidos” com “clubes”. Há muito poucos cidadãos, e muitos adeptos.

 

Confunde-se “adesão” com “aderência”-

 

As pessoas “são” “do CDS” ou “do PSD”ou “do PS” ou “do PCP” ou “do BE” como “são” “do Sporting” ou “do Benfica” ou “do Porto”.

 

São, em rigor, enquanto adeptos, militantes não inscritos.

 

A sua ligação sentimental é rígida, fiel, seguidista, cega e isenta de espírito crítico.

 

Faça o líder do seu clube o que fizer, de bem ou de mal, a sua fidelidade não muda.

 

Mesmo que tenha um comportamento indigno, ou mesmo se manifestamente incompetente, ou mesmo que evidentemente desonesto, os seus adeptos dirão que isso é resultado de manobras dos adversários, de cabalas montadas pelos inimigos.

 

Mas mesmo que, no íntimo, reconheçam essa indignidade, incompetência ou desonestidade, o seu fervor clubista não muda, tal como não muda o seu sentido de voto.

 

Só assim se compreende, por exemplo, a última vitória eleitoral do Partido Socialista.

 

Ninguém se importa que um político minta, faça promessas incumpríveis e que toda a gente sabe que ele não pode, não vai, não tem a mínima intenção de cumprir.

 

Desde que ele seja do clube/partido, tudo bem.

 

Não há democracia sem políticos, sem partidos, sem militantes.

 

Mas não há democracia sem cidadãos. Que saibam a diferença entre ser cidadão e ser adepto.

 

Que tenham sentido crítico. Que sejam exigentes.

 

Os partidos não são clubes. São opções.

 

Ser eleitor é diferente de ser adepto. É escolher. È julgar. É optar.

 

Mas não há democracia num Povo que não seja culto.

 

Que esteja, por isso, sujeito ao desprezo dos seus políticos. Que aceite, passiva e resignadamente, a convicção generalizada de que um político que fale verdade não ganha eleições.

 

Que saiba exigir.


Que saiba distinguir um bom vendedor de ilusões de um bom gestor. Que saiba julgar os serviços prestados.

 

O espírito crítico exige cultura. Exige uma Escola onde não impere o facilitismo, que não pactue com a ausência de valores.

 

Que ensine a diferença entre ser Cidadão, Adepto, e Crente.

 

Que ensine Liberdade.

 

Porque só um Povo culto pode ser livre.

 

publicado por jpargana às 12:39

Este blog é uma colectânea de reflexões do autor sobre temas de interesse geral e da sociedade e ambiente que o rodeiam.
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