Custa-me ver a campanha eleitoral para a Presidência da República convertida numa mera “campanha do vale tudo”.
Acho que os candidatos deviam ter a preocupação de manter um nível mínimo de dignidade na sua postura, nos seus argumentos, nas suas atitudes, e que deviam transmitir essa preocupação aos seus mandatários, seguidores e apoiantes.
É vulgar ouvir os candidatos fazerem profissões de fé, assegurando que o importante é debater ideias e princípios, evitando os ataques pessoais.
Concordo em absoluto!
Acho, no entanto, que o passado dos candidatos não pode ser ignorado quando está em causa a eleição para Chefe do Estado.
Estou consciente de que ter sido refractário ou desertor constitui, neste Portugal democrático, um atributo e um argumento a favor de uma carreira política de sucesso.
Vem isto a propósito de ter ouvido na televisão o candidato Alegre afirmar que a sua vida é cristalina, transparente, sem segredos.
Ainda bem!
Não gosto de falar do que não sei, e muito menos de acusar alguém sem provas. Mas há factos que são do domínio público, e que não são desmentidos pelo interessado.
O candidato Alegre não foi refractário nem desertor. Isso ele já esclareceu. Que esteve preso durante o seu serviço militar parece também ser um facto. Convinha que se esclarecesse por que causas e em que circunstâncias, assim como as circunstâncias que envolveram a sua passagem à disponibilidade.
Mas onde não há dúvidas é que depois disso, se pôs ao serviço do inimigo dos seus compatriotas.
Traiu os seus!
Não foi refractário. Não foi desertor. Foi traidor!
E não há nada mais vil que a traição!
Em que País é possível que um traidor se arrogue a pretensão de vir a ser Chefe do Estado e Chefe Supremo das Forças Armadas?
Chegou a tanto a nossa crise de valores?
A candidatura do candidato Alegre é uma afronta a toda uma geração que, certamente com dúvidas, mas com generosidade e com honra, pôs os melhores anos da sua juventude ao serviço da sua Pátria!
A candidatura do candidato Alegre é um insulto à memória dos que não regressaram!
O agora candidato, terá feito, à época, a opção que a sua consciência ditou. Foi a sua opção. Mas essa opção retira-lhe o fundamento moral para esta candidatura.
O Povo é sábio.
Eu confio no Povo.
Eu tenho fé que o Povo, a que pertencem os que ele traiu, lhe dê uma humilhante derrota!