Li o artigo do Professor Campos e Cunha no “Público“ em que denuncia a jogada de antecipação do governo para lançar para a oposição as culpas pelo que estamos a passar, usurpando o lugar de vítima, situação que o autor compara a um filme de terror em que Drácula culpa a vítima e lhe rouba o lugar.
Temos que reconhecer, por muito que nos custe, que foi uma jogada de mestre, o que não surpreende, pois neste tipo de jogadas é que o autor (da jogada) é mestre.
Mestre do vale-tudo, em que a culpa é sempre dos outros, das cabalas dos outros, da incompreensão dos outros, das más e obscuras intenções dos outros, da ingratidão dos outros.
Foi, de facto uma golpada genial, e temos que reconhecer que a oposição, e em particular o líder do seu principal partido, engoliu não só o isco, mas a chumbada, a bóia, o carreto e a cana.
Resultou em cheio!
E já vimos como vai ser a campanha eleitoral:
A partir de agora, tudo o que nos vai acontecer, a culpa é da oposição e do seu principal partido!
Não há passado, ou todo o passado não interessa!
O que interessa é ganhar as eleições e manter o poder a qualquer preço, nem que seja à custa de golpadas que prejudiquem, em última análise, o País em risco.
Se não fossem coisas tão sérias, até manifestaríamos a nossa admiração.
Pelo menos, nisto, há competência!
Não ficaremos (pelo menos eu não ficarei) surpreendidos se, num futuro próximo, o pedido de auxílio for utilizado por este senhor como sendo a salvação que ele (e mais ninguém) encontrou para o País, colhendo todos os louros pela iniciativa, e usurpando o lugar de Salvador da Pátria.
Mas há motivos de alívio:
É que agora, até o Sr. Qualquer Coisa e mais a sua camarilha podem ganhar as eleições.
Tanto faz.
Quem ganhar vai ter que governar com uma cartilha imposta de fora, pelos credores, e tem que a cumprir.
Há uma garantia.
Estão os políticos dispensados de prometer o que quer que seja que não venha na cartilha.
A campanha eleitoral pode ser simplificada: apenas há que escolher quem melhor saiba ler, escrever e contar para seguir a cartilha.
A menos que tenha razão aquele Governador (ou General?) Romano que dizia, no seu relatório para Roma:
“Há no extremo ocidental da Hispânia um estranho Povo: não se governa nem se deixa governar”.