Rua do Saco

Outubro 28 2010

Afinal, já se sabe de quem é a culpa!

 

Já se sabe de quem é a má da fita.

 

Então não querem lá ver que a Senhora Merkel diz que não está mais disposta a tolerar que seja o trabalho do seu povo a suportar a nossa vida e hábitos de ricos?

 

FASCISTA!

 

Ao que se chegou!

 

Como se nós não tivéssemos o direito de ter mais Mercedes, BMWs e Audis por habitante do que o país que os produz.

 

Como se a solidariedade não obrigasse os cidadãos do seu país a trabalhar para eles e para alimentar o nosso mau governo e a tripa-forra em que gostamos de viver!

 

Estou indignado!

publicado por jpargana às 13:13

Outubro 28 2010

Dizem que não se deve discutir política, nem futebol, nem religião.

 

Não é bom para as relações entre as pessoas.

 

Mas não misturemos as coisas: uma é ser-se cidadão, outra é ser-se adepto, outra ainda é ser-se crente. São coisas completamente diferentes.

 

O cidadão tem o direito de ser militante, mas tem a obrigação de exercer o seu direito de eleitor.

 

Acontece, porém, que no meu País, nada se passa assim.

 

Confunde-se política com futebol. Confunde-se “partidos” com “clubes”. Há muito poucos cidadãos, e muitos adeptos.

 

Confunde-se “adesão” com “aderência”-

 

As pessoas “são” “do CDS” ou “do PSD”ou “do PS” ou “do PCP” ou “do BE” como “são” “do Sporting” ou “do Benfica” ou “do Porto”.

 

São, em rigor, enquanto adeptos, militantes não inscritos.

 

A sua ligação sentimental é rígida, fiel, seguidista, cega e isenta de espírito crítico.

 

Faça o líder do seu clube o que fizer, de bem ou de mal, a sua fidelidade não muda.

 

Mesmo que tenha um comportamento indigno, ou mesmo se manifestamente incompetente, ou mesmo que evidentemente desonesto, os seus adeptos dirão que isso é resultado de manobras dos adversários, de cabalas montadas pelos inimigos.

 

Mas mesmo que, no íntimo, reconheçam essa indignidade, incompetência ou desonestidade, o seu fervor clubista não muda, tal como não muda o seu sentido de voto.

 

Só assim se compreende, por exemplo, a última vitória eleitoral do Partido Socialista.

 

Ninguém se importa que um político minta, faça promessas incumpríveis e que toda a gente sabe que ele não pode, não vai, não tem a mínima intenção de cumprir.

 

Desde que ele seja do clube/partido, tudo bem.

 

Não há democracia sem políticos, sem partidos, sem militantes.

 

Mas não há democracia sem cidadãos. Que saibam a diferença entre ser cidadão e ser adepto.

 

Que tenham sentido crítico. Que sejam exigentes.

 

Os partidos não são clubes. São opções.

 

Ser eleitor é diferente de ser adepto. É escolher. È julgar. É optar.

 

Mas não há democracia num Povo que não seja culto.

 

Que esteja, por isso, sujeito ao desprezo dos seus políticos. Que aceite, passiva e resignadamente, a convicção generalizada de que um político que fale verdade não ganha eleições.

 

Que saiba exigir.


Que saiba distinguir um bom vendedor de ilusões de um bom gestor. Que saiba julgar os serviços prestados.

 

O espírito crítico exige cultura. Exige uma Escola onde não impere o facilitismo, que não pactue com a ausência de valores.

 

Que ensine a diferença entre ser Cidadão, Adepto, e Crente.

 

Que ensine Liberdade.

 

Porque só um Povo culto pode ser livre.

 

publicado por jpargana às 12:39

Outubro 26 2010

Há dias, um amigo meu, dos bons que felizmente tenho, manifestava-me a sua estranheza pelo meu silêncio.

 

Dizia-me que, de há uns tempos para cá, nada via de novo nas suas visitas ao “rua do saco”.

 

Expliquei-lhe que, nos últimos tempos, as minhas reflexões têm sempre uma carga política muito forte, e eu não quero que quem me leia veja no que lê alguma conotação partidária.

 

O meu amigo conhece-me e eu sei que me compreendeu. Mas outras pessoas que me leiam, e que não me conhecem tão bem, merecem um melhor esclarecimento.

 

Tenho as minhas ideias.

 

Sempre tive e nunca as escondi. Não tive medo de as manifestar, quando outros tiveram.

 

Sem por isso ser herói.

 

Felizmente, sei pensar pela minha cabeça. Não tenho nenhuma filiação, nem me submeto a qualquer fidelidade ou disciplina partidária.

 

O meu partido é verde e encarnado, ou azul e branco, ou tem como símbolos os das bandeiras que, ao longo de oito séculos guiaram a Pátria que não escolhi mas que é a minha, e que eu amo.

 

Sou um cidadão, felizmente livre. Como disse, sei pensar pela minha cabeça.

 

O meu voto é sempre, segundo o meu julgamento, útil.

publicado por jpargana às 21:31

Outubro 25 2010

Levei muito tempo a aprender.

 

Não é que não tenha tido quem me ensinasse.

 

Mas há coisas que só o tempo, a idade, nos ensinam.

 

Assim dizia o saudoso Mestre Valente, da Fábrica onde dei os meus primeiros passos como engenheiro (e onde, em rigor, aprendi a profissão).

 

Eu já conheci o Mestre Valente em idade avançada, perto da reforma (talvez até já estivesse reformado, mas em actividade, por mútuo interesse e acordo com a fábrica).

 

Falava baixo, muito baixo e explicava: “-Sabe, Sr. Engenheiro? Falar baixo é a melhor maneira de a gente se fazer ouvir.”

 

Tive imensas “pegas” com o Mestre Valente.

 

Ele vinha da carreira oficinal, começando como aprendiz na antiga Fábrica de Cartuchame E Pólvoras Químicas e era um cartucheiro rude, mas muito sabedor.

 

Muito modesto, na sua sabedoria. Julgo que havia pouca gente que conhecesse como ele aquilo que fabricávamos.

 

Nunca o vi rir, ou mesmo sorrir.

 

Eu era um jovem oficial e engenheiro, saído de prestigiadas Escolas do País, Doutorado no estrangeiro e seu superior hierárquico. Ao contrário do Mestre, eu falava alto. E desconfiava dele, pensando que as “pegas” eram só tentativas para pôr a nu o maior valor da sua experiência em confronto com os meus conhecimentos teóricos.

 

Só muito mais tarde fui aprendendo e recordando o Mestre Valente.

 

Não resisto a contar, a propósito:

 

Um dia, após uma “pega” em que eu tinha comigo a razão (uma “pega” ganha por mim), disse-me, sempre na sua voz baixa: -“Sr. Engenheiro: Há realmente coisas que só se aprendem com a experiência e que só a vida nos ensina. Mas há outras, que só se aprendem nos livros.”

 

Na minha vida, fui falando cada vez mais baixo, e só agora (um pouco tarde, reconheço) falo no tom de voz dos sábios (não quero dizer, longe de mim, que sou um deles).

 

Em devido tempo percebi que uma carreira política me estaria vedada, por limitações minhas (a de falar alto incluída).

 

Mas o que se passa no nosso País com o maior partido da oposição apenas confirma a minha convicção de que tudo o que os seus últimos líderes tinham a fazer era, não falar baixo, mas estar calados.

 

Mais: deviam estar quietos.

 

Eu até compreendo a Dr.ª Manuela. Era nítido o frete que a senhora andava a fazer, e há que saudar o sacrifício que andava a fazer, tão contrariada.

 

Compreendo, por isso, que tenha optado por falar, e, ainda por cima, por falar verdade.

 

Ela sabia que essa era a melhor forma de ser corrida e ser, finalmente, aliviada do sacrifício.

 

Mas não compreendo o actual líder, que eu julguei desejar vir a ganhar eleições e ser Primeiro-Ministro.

 

É bom que o partido comece a procurar o próximo líder com o compromisso de não abrir a boca, nem mexer.

 

É a única estratégia válida para destronar o partido no poder.

 

Podem até chamar um Tiririca. Pior do que está não fica.

 

Até podem chamar o FMI. Ou então tirem-me daqui.

publicado por jpargana às 12:54

Este blog é uma colectânea de reflexões do autor sobre temas de interesse geral e da sociedade e ambiente que o rodeiam.
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