Não sei se a Selecção de Portugal vai perder com a Alemanha, a Holanda e a Dinamarca e se vai ser eliminado na fase de grupos.
Não sei, embora tenha uma idéia do que se vai passar.
Mas o que não entendo é o coro de indignação que se levantou contra as declarações do Manuel José.
Até parece que o Manuel José vai ser o culpado de tudo o que a Selecção fizer de mau.
Entendamo-nos!
Mais uma vez, alguém tem que gritar que o Rei vai nu!
Um pouco de bom senso faz sempre bem!
Subscrevo totalmente, com apreço e respeito pela sua frontalidade, as palavras do experiente treinador.
A verdade, muitas vezes, é incómoda!
Não poderia estar mais de acordo!
Na altura em que o Real Madrid comprou o Cristiano Ronaldo ao Manchester United, comentei, junto de alguns amigos que consideravam exagerada e indecorosa a verba envolvida, que até podia ser que o preço poderia ter sido baixo. Hoje, provávelmente, até poder haver muito boa gente que ache que foi uma pechincha para o Real Madrid.
Não tenho nada contra o que ganham os grandes craques do futebol.
Que gastem o seu dinheiro em Lamborghinis, Maseratis ou Gormitis.
Que lhes façam muito bom proveito. Não tenho nada com isso!
Não sinto, sinceramente, a menor inveja.
Mas acho justa e adequada a designação de circo que o Manuel José utilizou.
Assenta, como uma luva, ao espectáculo que se montou à volta da Selecção.
Também me parece não ser a forma de preparar uma prova como a que vai começar.
Não augura nada de bom. Oxalá esteja errado!
Mas receio muito que, no regresso, o circo seja diferente, e que seja necessária uma porta das traseiras para os craques saírem. Não gostaria de os ver sair pela porta dos traseiros!|
Oxalá me engane!
Também acho que, num país à beira da bancarrota, em que o número de pessoas que passam fome aumenta todos os dias, num país sem esperança e sem futuro, em que o drama das dificuldades das famílias atinge dimensões de desespero, o espectáculo do desfile de Lamborghinis e Maseratis dos craques à chegada à concentração é, no mínimo, indecoroso.
È uma afronta aos milhares de desempregados que lutam desesperadamente pela sobrevivência.
Aos que, por faltam de alternativas, procuram na emigração essa mesma sobrevivência.
È uma questão de decoro. De recato. Em seu lugar, de desprezo pelos outros.
E é principalmente uma questão de respeito. Aliás, de falta dele.
Como o é também que ninguém tenha ensinado ao capitão da equipa a forma correcta de se dirigir ao Chefe do Estado.
Há mínimos.
O capitão de equipa pode ser o melhor jogador do mundo, pode ganhar muito dinheiro e ser muito rico, mas não tem estatuto (ninguém aliás o tem) para tratar o Chefe do Estado, numa cerimónia formal por “você”!
Independentemente de se gostar ou não da pessoa que ocupa tal cargo.
Só faltou trata-lo por “Sr. Aníbal”!
Não aprendi o Hino Nacional nos estádios de futebol, nem ponho a Bandeira Nacional à janela da minha casa. Deixo isso para os “Portugalistas“ por analogia com os Sportinguistas, Benfiquistas ou Portistas. Tive, durante a minha vida, o previlégio de outras maneiras de honrar essa Bandeira.
Adoro futebol! Mas também gosto das coisas no seu devido lugar.
Sonho com o sucesso da nossa Selecção!
Faço votos que a nossa Selecção ganhe àquelas cujos jogadores chegaram à concentração de táxi ou autocarro ou que não desfilaram de charrete.
P.S.: Que não se veja nas minhas palavras qualquer despeito por nunca ter sido convidado para Seleccionador Nacional